Spotify pretende reformular modelo de royalties visando redirecionar cerca de US$ 1 bilhão

A plataforma busca eliminar fraudes de streaming e estabelecer um patamar mínimo de reproduções para remuneração, buscando combater fake streams.

Spotify, é plataforma líder no segmento streaming musical, tem um papel crucial na maneira como os artistas são remunerados através de suas músicas. Recentemente, foram reveladas propostas de mudanças significativas no modelo de royalties do Spotify, que podem redefinir o cenário de ganhos para artistas e selos musicais. A questão que fica é, quais as implicações dessas mudanças tanto para artistas independentes quanto para grandes artistas.

As mudanças propostas pelo Spotify são tridimensionais e têm como objetivo principal combater fraudes em streaming e direcionar a remuneração de maneira mais justa. A primeira alteração é uma penalidade para distribuidores de música, incluindo gravadoras, por atividade fraudulenta detectada em suas faixas. A segunda mudança proposta é aumentar o tempo mínimo de reprodução para faixas de ruído antes que comecem a gerar royalties. Atualmente, qualquer faixa que seja reproduzida por mais de 30 segundos começa a acumular royalties.

A terceira e mais polêmica mudança é a introdução de um limiar mínimo de transmissões anuais para uma faixa antes que comece a ganhar royalties. Este limiar é estimado em cerca de 200 streams por ano, o que equivale a cerca de 5 centavos por mês. Muitas faixas de artistas independentes não atingem esse limite, o que implica que os ganhos que de outra forma iriam para esses artistas serão agora direcionados para um “pool de streamshare”, beneficiando artistas maiores.

Os críticos argumentam que esta é uma abordagem que desfavorece os artistas independentes, tirando-lhes os pequenos ganhos e redirecionando-os para artistas já estabelecidos e bem-sucedidos. Esta mudança, argumentam, é equivalente a um Robin Hood reverso, tirando dos modestos para dar aos gigantes.

O debate sobre a justiça na distribuição de royalties não é novo no mundo do streaming musical. Plataformas como SoundCloud e Deezer já exploraram modelos diferentes para garantir uma distribuição mais equitativa dos ganhos. O SoundCloud, por exemplo, introduziu um modelo centrado no usuário, que distribui pagamentos com base no número de transmissões, em vez de uma quota do total de escutas.

A mudança proposta pelo Spotify pode ter um impacto significativo em uma indústria já construída em torno de artistas DIY (Do It Yourself), com plataformas como TuneCore, DistroKid e CD Baby, que prometem aos artistas a chance de serem pagos pelo seu trabalho. Com um limiar mais alto para ganhar royalties, a proposta de valor dessas plataformas pode ser questionada.

É importante notar que o Spotify ainda não confirmou esses planos. Em uma declaração ao The Verge, um porta-voz do Spotify, Chris Macowski, mencionou que a empresa está sempre avaliando como pode servir melhor aos artistas e discutindo com os parceiros maneiras de aprimorar a integridade da plataforma.

“Estamos sempre avaliando como podemos servir melhor os artistas e discutindo regularmente com os parceiros maneiras de promover a integridade da plataforma”

As mudanças no modelo de royalties do Spotify podem remodelar o cenário de remuneração na indústria da música digital. Enquanto o objetivo de combater fraudes e garantir uma compensação justa é interessante, a implementação de um mínimo de transmissões pode criar desafios substanciais para artistas emergentes.

Esta situação realça a necessidade de um diálogo contínuo entre plataformas de streaming, artistas, gravadoras e distribuidoras para encontrar um equilíbrio que apoie tanto a inovação na indústria musical quanto a sustentabilidade financeira dos criadores de música. O futuro das mudanças propostas ainda é incerto, mas sem dúvida, acende uma discussão necessária sobre a equidade na era digital da música.